sábado, 11 de fevereiro de 2012

Mentiras omitidas, caminhos sem vindas

Mentiras sinceras nos interessam? Sim, não, talvez! Quem nunca mentiu que atire a primeira pedra. Sim, é algo não politicamente correto, mas quem costuma seguir regras por aqui? Estamos no Estopim, por favor. Viver em sociedade não é o papel mais elegante do mundo, e para isso, às vezes precisamos lançar aquela mentira básica. Todavia, será que você está resolvido quanto a esta questão? Será que seu corpo não indica o seu "deslize"?
Estar ciente de que você distorce as coisas para amenizar ou para enganar é um caminho importante. Depois de fazer um trabalho acadêmico sobre o assunto e de muito ler a respeito, posso dizer que: aos meus olhos, mentir não é algo errado. Apenas depende dos motivos que se é utilizado. Por exemplo: se aparece uma suspeita de um impostor no governo (exemplo bem comum, mas tudo bem) e para amenizar e não criar alarde antes das coisas serem resolvidas, o governo optar por esconder o assunto, não é de todo ruim. Isso é chamado de mentira institucional, onde é estabelecida para o bem comum.
No livro "A Mentira" (1953), de Nelson Rodrigues, encaramos a falta da verdade como algo não menos que o natural. Ao mesmo tempo em que o autor nos coloca perante a jacina dos personagens de Lúcia (uma menina de treze anos que se vê grávida) e do pai taciturno e severo (mas completamente apaixonado pela filha caçula Lúcia, que mais tarde descobre não ser legítima), ele deambula pela caricata "Amélia", chamada no livro de Ana, a mãe da menina. Mostra as faces e os tipos mais sórdidos e sofríveis de uma não verdade.

Na obra, analisamos claramente como mentir pode destruir uma família e arruinar um futuro. Acabar com a segurança e acima de tudo, da confiança, dando assim, margens à imaginação. No fim, Nelson nos mostra uma Lúcia para sempre intocada, e na verdade, um médico que padecia de demência (diagnosticando todas as mulheres da cidade como grávidas). Apesar dos dramas, no decorrer do livro, vemos também, a necessidade de omitir e de mentir muitas vezes para proteger ou não alarmar outra pessoa. Portanto, não desprezem tanto uma mentirinha!


"(...) o mundo vai mal por carência de mentira. É o que eu procurarei demonstrar em meu romance. É necessário que nos aperfeiçoemos na arte de mentir, de maneira a que o façamos construtivamente e piedosamente. Pela mentira consolaremos o aflito, aliviaremos o frustrado, alimentaremos as esperanças de quem já se perdeu. Mentir é caridade, no seu mais alto sentido. Sejamos caridosos, cada vez mais caridosos, sejamos mentirosos." (Nelson Rodrigues, 1953, O Jornal da Semana, nº 9).
Cursos de como detectar uma mentira? Será que sua linguagem corporal te entrega?
A loucura é tanta, que existem cursos e mais cursos para descobrir a mentira através da linguagem corporal. O curso "Sinais da Mentira" tem a carga horária de sessenta horas, com oito presenciais e cinquenta e duas à distância. Seu material didático é incluso (que diabos seria algo desse tipo? Um corpo humano cheio de setas dizendo: cuidado, com esta mão podem lhe enganar), além do certificado e pasmem (pasmem mesmo!), dois estudos com casos em tempo real. O preço fica por bem investidos quatrocentos e cinquenta reais!

Brincadeiras à parte, o ensino pode parecer meio charlatão – eu disse "parecer" -, mas é ministrado pelo Instituto Brasileiro de Linguagem Corporal (IBRALC), tendo o objetivo de desenvolver a habilidade em reconhecer a mentira, não só pelas expressões faciais, como no próprio gestual do indivíduo. O professor a cargo das aulas é o psicólogo Sergio Senna Pires, doutor em psicologia (UnB), com diversas especializações na área de educação, segurança e políticas públicas. Foi observador da Organização das Nações Unidas na Guatemala nas eleições presidenciais de 1999 e na verificação de violação de direitos humanos até 2001. Além de ter sido vice-presidente e secretário do Conselho Regional de Psicologia da 1ª Região e membro da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional. Mal assistido você não vai estar!

Essa ideia de mentir ser errado é "pré-conceituosa". Um pré-julgamento dos motivos que levaram ao outro fazê-lo. Muitas vezes o próximo mente com medo da resposta, ou por acreditar que você talvez não tenha a maturidade para ouvir o que ele lhe tem a dizer. Nem sempre a verdade é a melhor opção. Apesar, é claro, de ser o caminho com mais idas e vindas. O importante, então, é agir de acordo com a sua consciência. Se acreditar ser necessário mentir, faça-o. Mas tenha em mente as consequências de seu ato.

Rafaela Bernardino

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