quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Decifra-me ou te devoro

Claudia Reis

As unhas arranham minhas canelas. Vão se multiplicando aos poucos, mas quanto mais chegamos perto do fim, maior é a velocidade com que se reproduzem.

Os olhos, antes tranquilos e despreocupados, me fitam esbugalhados. E só consigo enxergar neles ponteiros de um relógio, sempre a tiquetaquear os segundos que acabaram de se esvair.

Eles suplicam pela redenção. Querem ser salvos, e me elegeram a heroína da história mal contada. E eu até tentei: improvisei pontes sobre o riacho, emprestei facões para darem conta da mata fechada, apontei os cipós para que pulassem sobre a areia movediça.

No desespero, imploram para deus, seus deuses, qualquer um deles. Mas não se dão conta de que o deus que buscam de olhos fechados, sem as letras D e S, se transforma em EU. Eu - eles mesmos, não eu, a seta torta a repetir mantras iguais dia após dia.

EU - está tudo ali. Bem ali, mirando-os do espelho.


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